Carga com 2,5 mil ampolas de fomepizol, eficiente no tratamento à intoxicação causada pela adulteração de bebidas destiladas, formará os estoques do governo federal e das unidades da Federação. Distrito Federal receberá 20 frascos
Por Correio Braziliense
O Brasil recebeu, ontem, o primeiro lote de fomepizol, antídoto utilizado no tratamento da intoxicação por metanol. Foram descarregadas 2,5 mil ampolas, adquiridas por meio do Fundo Estratégico da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), que desembarcaram no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. O Distrito Federal receberá 20 unidades do medicamento e parte da carga será distribuída pelas demais unidades da Federação.
A distribuição do fomepizol, que é parte da resposta emergencial do Ministério da Saúde à escalada de envenenamento provocado pela falsificação de bebidas destiladas com a adição de metanol, começa hoje, com prioridade para os estados com maior número de casos. São Paulo, epicentro do surto de intoxicação, recebeu 288 ampolas. Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul também começaram a ser abastecidos. Mil unidades permanecerão armazenadas no estoque estratégico do governo para uso emergencial.
A secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Mariângela Simão, afirmou que “as compras foram realizadas em parceria com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, e os hospitais de clínicas já contam com etanol farmacêutico. O que estamos oferecendo agora é uma segunda opção, o fomepizol, adquirido via Opas com apoio da Anvisa (Agência Nacional de VIgilância Sanitária). Apesar de termos notificações em 12 estados, todos terão à disposição os dois tratamentos.”
Segundo o diretor-presidente da Anvisa, Leandro Safatle, “a agência lançou um edital para identificar produtores no mundo capazes de fornecer o medicamento ao Brasil. Localizamos uma fabricante japonesa, e a Opas realizou um trabalho essencial para viabilizar a importação. Discutimos no sábado, autorizamos no domingo e o produto já chegou — um processo em tempo recorde.”
O antídoto será distribuído conforme critérios epidemiológicos e capacidade de resposta das redes estaduais de saúde. Minas Gerais receberá 152 unidades; Rio de Janeiro, 120; Bahia, 104; Paraná, 84; e Rio Grande do Sul, 80. Estados com menor incidência de intoxicações receberão entre 16 e 68 ampolas. O Ministério da Saúde não informou o custo total da operação, mas ressaltou que a premissa da compra emergencial é para evitar o aumento de mortes de pacientes expostos à ingestão do metanol.
O fomepizol é o tratamento de referência internacional contra intoxicação pela substância que vem sendo adicionada à bebida. O medicamento impede que o metanol se transforme em ácido fórmico, evitando falência renal, cegueira e morte. Por ter baixa produção e custo elevado, o insumo é considerado raro e de difícil obtenção no mercado internacional.
Paralelamente à chegada do antídoto, o governo federal recebeu uma doação de 12 mil ampolas de etanol farmacêutico, que se somam às 4,3 mil já distribuídas aos estoques do Sistema Único de Saúde (SUS). A substância pode ser administrada em casos suspeitos de intoxicação por metanol, sempre sob prescrição médica e monitoramento hospitalar.
O Ministério da Saúde informou que 1.485 unidades do etanol farmacêutico foram encaminhadas a 10 estados e ao Distrito Federal, de acordo com a demanda das secretarias locais. Alagoas, Rio Grande do Sul, Goiás, Paraná, Acre, Ceará, Rio de Janeiro, Bahia, Mato Grosso do Sul e Pernambuco receberam remessas emergenciais.
Os números de casos seguem em atualização diária. Até o dia 9 de outubro, o Brasil registrava 273 notificações de intoxicação por metanol, com 27 casos confirmados e 246 em investigação. São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul continuam como as únicas unidades da Federação com confirmações laboratoriais, somando cinco mortes. O ministério informou que as análises toxicológicas em andamento podem ampliar o total de registros.
Entre os casos ainda sob apuração, São Paulo concentra 181 notificações, seguido por Pernambuco (24); Paraná e Rio de Janeiro (cinco); Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Piauí (quatro); Espírito Santo (três); Goiás (duas); Acre, Paraíba e Rondônia (uma). As autoridades reforçam o alerta contra consumo de bebidas sem procedência e o acionamento dos serviços de saúde diante de sintomas como náusea, tontura e perda de visão.
Para o especialista Valmir Rodrigues, CEO da MYTS, “os casos de intoxicação por metanol são graves porque envolvem a adição deliberada de uma substância altamente tóxica em bebidas ilegais. Não é falta de lei, mas de fiscalização e responsabilização”, disse ao Correio.
Ele avalia que o país precisa avançar em rastreabilidade e controle. “Nos Estados Unidos, 17 estados controlam diretamente a venda de destilados, o que garante rastreabilidade e reduz o risco de fraudes. O Brasil precisa de aplicação rigorosa das normas e punições efetivas, além de mais consciência do consumidor sobre a procedência do que consome”, adverte.
Rodrigues lembra que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), alimentos e bebidas inseguras causam 600 milhões de casos de intoxicação e 420 mil mortes por ano. “Seja por fraude química ou contaminação microbiológica, o impacto na saúde pública é global e expressivo”, observa.
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