Derrota anunciada na altitude de 4.150m, em El Alto, encerra trajetória liderada por três técnicos diferentes e 71 jogadores relacionados. Quinto lugar levaria Brasil à repescagem no formato antigo
Por Correio Braziliense
Acabou com requintes de crueldade a pior campanha do Brasil na história das Eliminatórias. A Seleção perdeu para a Bolívia por 1 x 0 no Estádio Municipal de El Alto, a 4.150m de altitude, praticamente sem fôlego para encerrar a maratona de 18 rodadas em quarto lugar, atrás da campeã simbólica Argentina, do Equador e do Uruguai. Os pentacampeões terminaram em terceiro no processo seletivo para 2002 com 30 pontos e encerram a corrida para 2026 na quinta colocação com 28. No regulamento antigo, o país seria submetido a uma repescagem. Miguelito fez o gol polêmico dos anfitriões em cobrança de pênalti.
“Tivemos dificuldades, principalmente no começo da competição. Ganhamos os dois primeiros jogos, mas o objetivo principal era classificar a Seleção para a Copa. Alcançamos o objetivo e agora é trabalhar para chegarmos bem na Copa”Raphinha, atacante da Seleção, em entrevista à TV Globo
Depois da primeira derrota e do primeiro gol sofrido, o técnico Carlo Ancelotti reiterou segurança e protestou sobre o pênalti. “Pelo que equipe fez nos jogos tenho máxima confiança no time em fazer Mundial com êxito, lutar topos os jogos. O jogo de hoje foi muito especial em todos os sentidos. VAR deu pênalti… coisas que podem melhorar”, comentou.
“De positivo no jogo de hoje, vi o esforço do time, dos jogadores, porque é muito difícil jogar aqui. Isso já se sabia. Os jogadores fizeram um esforço tremendo, o jogo foi muito complicado, difícil. Pelo componente técnico, pelo componente físico”Carlo Ancelotti, treinador da Seleção Brasileira
O árbitro chileno Christian Garay viu falta do exausto volante Bruno Guimarães em Roberto Fernández. O goleiro Alisson acertou o canto direito, mas Miguelito bateu forte e converteu. A Bolívia encerra as Eliminatórias com quatro gols de pênalti. A mais favorecida nesse ranking. Duas dessas infrações foram cometidas no segundo estádio com maior altitude no mundo, atrás apenas do Estádio Daniel Alcides Carrión, no Peru, a 4.378m.
A decisão do juiz revoltou Carlo Ancelotti. O técnico questionou Christian Garay a caminho do vestiário. Europeu, o italiano interpretou a jogada com olhar de quem trabalhou a vida inteira no Velho Continente. Lá, o pênalti dificilmente seria marcado. O goleiro Alisson endossou a pressão antes da pausa das seleções para recarregar os pulmões de oxigênio.
O Brasil não havia sofrido gol desde a posse de Carlo Ancelotti. Miguelito encerrou a série. A Seleção também não havia perdido depois de empatar com o Equador, em Guayaquil; de vencer o Paraguai, em São Paulo, e de superar o Chile, no Maracanã.
Derrota na altitude à parte, a campanha do Brasil nas Eliminatórias é marcada pela bagunça na gestão do ex-presidente Ednaldo Rodrigues. Foram três técnicos diferentes. Fernando Diniz comandou a Seleção em seis jogos. Venceu duas partidas, empatou uma e perdeu três. Uma delas para a Argentina, no Maracanã. O primeiro revés verde-amarelo diante dos rivais no país. Diniz caiu com 38,88% de aproveitamento sem deixar nenhum legado técnico e tático para o sucessor.
Dorival Júnior herdou a prancheta profetizando a presença do Brasil na final da Copa de 2026, porém houve nova troca de bastão. Em oito jogos, acumulou quatro vitórias, dois empates e duas derrotas. Foi demitido com 58,33% de aproveitamento.
Carlo Ancelotti assumiu a Seleção para os últimos quatro jogos. Venceu dois, empatou um e perdeu a invencibilidade para a Bolívia na altitude de El Alto, um jogo praticamente descartado pela comissão técnica. Houve nove alterações em relação ao time escalado na vitória por 3 x 0 contra o Chile, ao nível do mar, no Rio de Janeiro. Depois do revés contra a Bolívia, o aproveitamento é de 58,33%, o mesmo do antecessor Dorival Júnior.
Para encerrar o balanço da melancólica campanha, o Brasil relacionou 71 jogadores em 18 jogos nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026. Entre os feridos pela pior campanha na história do país nas Eliminatórias salvaram-se todos do vexame de ficar fora do torneio pela primeira vez.
A Seleção está classificada sem escalas na seguinte ordem: Argentina, Equador, Colômbia, Uruguai, Brasil e Paraguai. Sétima colocada, a Bolívia participará da repescagem mundial, em março, no Canadá, nos Estados Unidos ou no México, na tentativa de voltar à Copa depois de 32 anos. A última aparição foi em 1994.
Bolívia 0 x 1 Brasil
Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026 (18ª rodada)
Local: Municipal de El Alto, Bolívia
Arbitragem: Cristián Garay (CHI)
Público e renda: não informado
Brasil (4-3-3)
Alisson; Vitinho (Marquinhos), Fabrício Bruno, Alexsandro Ribeiro e Caio Henrique; Lucas Paquetá, Andrey Santos (Jean Lucas) e Bruno Guimarães; Luiz Henrique (Estêvão), Samuel Lino (Raphinha) e Richarlison (João Pedro). Técnico: Carlo Ancelotti
Cartões amarelos: Bruno Guimarães e Fabrício Bruno
Bolívia (4-3-3)
Carlos Lampe; Diego Medina (Yomar Rocha), Luis Haquín (C), Efraín Morales, Roberto Fernández; Robson Matheus, Ervin Vaca (Héctor Cuellar) e Gabriel Villamil; Miguelito, Moisés Paniagua e Enzo Monteiro (Carmelo Algarañaz). Técnico: Oscar Villegas
Gol: Miguelito (pênalti), aos 49 minutos do primeiro tempo
Cartões amarelos: nenhum
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