Alice dos Santos rompeu estigmas e, aos 20 anos, foi aprovada em sete universidades norte-americanas.Ela se preparou por meio de apps e plataformas on-line e gratuitos e conquistou bolsa integral para realiza o sonho de estudar no exterior
Por Júlia Christine* via Correio Braziliense
Aos 20 anos, Alice dos Santos Araújo foi aprovada em sete universidades norte-americanas entre 2023 e 2024. Com uma infância desafiadora, a paraibana contou com recursos educacionais gratuitos para aprender inglês.
Apesar das dificuldades financeiras e da falta de oportunidades, a jovem rompeu barreiras e, em agosto, com bolsa integral, embarca para os Estados Unidos para estudar na Universidade da Carolina do Norte, onde planeja cursar ciência da computação e educação
Moradora de Nova Olinda, no sertão da Paraíba, Alice sempre gostou de estudar e aprender coisas novas. Recém-aprovada na instituição, ela conta que, em seus momentos de aprendizado, vivia “algo mágico”. “Para mim, era muito bonito e interessante ter a oportunidade de pegar uma página e aprender o que estava escrito nela. Algo mágico”, lembra.
Como se estivesse adquirindo novos poderes, Alice levava os estudos a sério. Sempre estudou em escolas públicas e, no ensino médio, frequentou o Instituto Federal da Paraíba, onde teve acesso ao currículo adicional do curso técnico em informática. Foi lá que se apaixonou pelo mundo da tecnologia, ao participar de pesquisas científicas, projetos de extensão e aulas de programação
Até o ensino médio, Alice não sabia qual caminho seguir após a formatura. Na família, foi a primeira a conquistar o direito de ingressar no ensino superior e explorar os caminhos de um futuro acadêmico. Somente com a chegada ao IFPB, descobriu que poderia fazer faculdade, cursar mestrado, tornar- -se doutora e trabalhar na área
Na transição do primeiro para o segundo ano do ensino médio, a jovem descobriu a possibilidade de um brasileiro estudar fora do país. Por meio de programas extracurriculares de ciências, ouviu colegas comentarem sobre suas experiências e dificuldades durante as candidaturas para universidades nos Estados Unidos. Desde então, guardou no coração a esperança de estudar em terras estrangeiras.
Diante do medo e de muitas dúvidas, Alice encarou o desafio de estudar nos EUA com coragem. Sem saber por onde começar, passava o dia pesquisando o que era preciso para dar o primeiro passo. “Descobri que era necessário ter notas boas, participar de atividades e ações sociais e, o mais importante, saber falar inglês com proficiência”, conta.
Assim que concluiu o ensino médio, a paraibana tirou um ano sabático para se dedicar inteiramente aos estudos. Com o apoio da mentoria da Academia Latino- -Americana de Liderança (LALA), programa de colocação universitária, Alice começou a entender, de forma clara e estratégica, como funcionava o processo de aplicação. Além disso, dedicava-se intensamente ao inglês e praticava o idioma todos os dias.
Sem recursos financeiros, contou com plataformas gratuitas para desenvolver fluência. “O inglês é a chave para quem deseja sair do Brasil em busca de oportunidades acadêmicas. Infelizmente, na realidade financeira da minha família, não era possível pagar cursos. Então, busquei formas de aprender sem custos. Além disso, tentei ao máximo me inserir em espaços nos quais todos só falavam inglês”, afirma.
Durante as aplicações para as universidades, a jovem paraibana enfrentou momentos desafiadores. Entre 2023 e 2024, candidatou-se a diversas instituições e, por seu esforço incansável, no primeiro ano de tentativa foi aceita em quatro lugares: University of Colorado at Boulder, Stockton University, University of British Columbia, no Canadá, e University of Wisconsin–Madison.
Já em 2024, foi aprovada em mais três universidades: University of Wisconsin–Madison, University of Connecticut e University of North Carolina at Chapel Hill. Com as opções em mãos, Alice escolheu a Universidade da Carolina do Norte, onde está matriculada.
A escolha da instituição foi a parte mais fácil do processo. Antes das candidaturas, Alice fez uma pesquisa detalhada, chamada College List ou College Research, na qual definiu, com base em critérios pessoais e qualidade de ensino, o lugar ideal para iniciar a vida acadêmica
Eu me apaixonei logo de cara. A universidade tem um foco especial em serviços comunitários. Além disso, fica estrategicamente localizada no Research Triangle, área metropolitana na região de Piedmont, na Carolina do Norte, que abriga três grandes universidades de pesquisa. Um local recheado de inovação, educação e tecnologia foi a melhor escolha”, relata.
A UNC roubou seu coração.“Eu me apaixonei logo de cara. A universidade tem um focoespecial em serviços comunitários. Além disso, fica estrategicamente localizada no ResearchTriangle, área metropolitana naregião de Piedmont, na Carolinado Norte, que abriga três grandes universidades de pesquisa.Um local recheado de inovação,educação e tecnologia foi a melhor escolha”, relata
Após o resultado, resolveu se candidatar ao processo seletivo de bolsas da Fundação Behring, associação brasileira sem fins lucrativos que apoia jovens que desejam transformar realidades por meio da tecnologia. E veio mais uma conquista: uma bolsa integral, que custeará toda sua graduação no exterior.
“Não acreditei quando descobri que tinha ganhado 100% de bolsa pela Fundação Behring. Foi um sentimento de muita gratidão, realização e felicidade. Caso não tivesse dado certo, eu teria saído com o maior aprendizado: que, pelo menos, foi possível tentar, porque, por muito tempo, para mim, nem isso era possível”, afirma
ja se qualificar, ao máximo, no exterior e retornar ao Brasil. “Sinto que aqui é o meu lugar. Quero estudar e voltar para apoiar minha comunidade. Pretendo ajudar a reduzir o gap de gênero e econômico nas áreas de STEM (abordagem de aprendizagem que integra ciência, tecnologia, engenharia e matemática)”, conclui.
Alice deixa uma grande lição: “Aos que têm vontade, interesse e desejo de aprender, mas têm medo de não alcançar seus sonhos, apenas comecem com o pouco que têm. O começo vai ser difícil, principalmente se você está inserido em uma realidade socioeconômica desfavorável, mas é no começo que as grandes portas se abrem”, finaliza.
*Estagiária sob supervisão de Ana Sá
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