Walcyr Carrasco foi um dos convidados da Bienal do Livro para participar do painel “Páginas na Tela: Novelas”, que reuniu roteiristas e escritores para conversar sobre os bastidores da teledramaturgia. Durante o evento, o autor compartilhou sua visão sobre a criação de histórias para a televisão, afirmando que a essência das tramas continua a mesma ao longo do tempo, apenas adaptada para novos contextos.
“Não temos histórias novas há muito tempo. Todas foram escritas no tempo dos xamãs e das lendas que eram contadas ao pé do fogo”, declarou. Ele mencionou, como exemplo, a figura da vilã já presente em relatos bíblicos. “A vilã clássica está na Bíblia, que é a mulher de Potifar. Ela se vinga do homem que não a quer. Isso está até hoje nas novelas”, disse.
Para Carrasco, essa repetição de estruturas não representa uma limitação criativa, mas sim um reflexo da maneira como o ser humano se conecta com narrativas. “Desde aquela época já se criavam as grandes estruturas e a gente só renova. Só repete. Só conta de outro jeito. Isso não é demérito, é bonito, porque a humanidade se renova. O encontro da mãe com o filho, por exemplo, é contado mil vezes, mas sempre emociona, desde que seja bem escrito e os atores sejam bons. Isso toca o coração”, completou o autor, que acumula mais de 20 anos de trajetória na Globo.
Ainda durante sua fala, o escritor comentou sobre a linguagem que as novelas utilizam para alcançar o grande público. “As novelas fazem as emoções fortes e até um pouco óbvias às vezes. Quanto mais claras elas são — o vermelho é vermelho —, mais tocam o público. Acredito nas estruturas antigas. E os clássicos são clássicos”, opinou.
Ele também revelou que a novela O Outro Lado do Paraíso (2017) foi inspirada diretamente em uma obra de Alexandre Dumas. “É inspirado declaradamente em O Conde de Monte Cristo. Inclusive com cenas do Conde de Monte Cristo, um livro antigo. Outra história, mas peguei umas cenas, estruturas de personagens? Os clássicos têm sempre algo a nos oferecer”, explicou.
Por fim, Carrasco contou que não costuma seguir rigidamente o que está previsto nas sinopses entregues à emissora. “Ela é o começo. Dez capítulos e eu chuto o balde. Seja o que for. Depois que estreia, os personagens vão me contando como continuar. Eu chamo a sinopse de carta de boas intenções para os meus chefes”, brincou.
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