Por: Morillo Carvalho, editor Clube.FM

Ganhar o Big Brother Brasil é tarefa das mais difíceis: significa entrar em exposição 24 horas por dia, construir relações, estar ao lado das pessoas certas e ser capaz de criar uma narrativa que conquiste o público – talvez a tarefa mais árdua, já que não há feedback possível e os poucos sinais são difíceis de captar. Por outro lado, qualquer jogada assertiva pode ser capaz de arrebanhar fandoms e gente tão militante que trabalhe, inclusive, em prol de seus aliados – ainda que eles apareçam pouco no jogo. Nas três últimas edições do programa – quando ganhou novo ânimo depois de pelo menos 10 edições que não foram capazes de mobilizar tanta gente – essa fórmula se tornou ainda mais clara. E, portanto, Thelminha, Juliette e Arthur Aguiar são donos de todo o mérito.

O que vem no pós-BBB, historicamente, era horrível, a menos que você saia vencedor ou no Top 5: os que aproveitavam a projeção para entrar na área de entretenimento televisivo ou mesmo para tentar emplacar como atores e atrizes tinham de enfrentar preconceitos e adversidades aos montes. A vice-campeã do BBB 15, Amanda Djehdian, respondeu a um comentário da influencer Andréia Matos relatando situação constrangedora com atriz:

Isso foi mudando nessas três últimas edições, mas ainda existe. O mais recente episódio foi o que envolveu Juliette Freire, vencedora da edição 21 do BBB e a atriz Samantha Schmutz. Mas, justiça seja feita, desde a reformulação do programa e a entrada de artistas como “grupo Camarote”, a proporção anda bem menor. Desde o ano passado, até mesmo a primeira eliminada encontrou carinho do público e portas bem mais abertas, e quem ganha as edições é ainda mais prestigiado: Thelma ganhou quadros em programas globais, Juliette teve documentário próprio produzido pelo Globoplay e deslanchou na carreira de cantora. No BBB 22, no entanto, ganhar a edição parece ter se tornado um fardo pesado para Arthur Aguiar.

Sem assinar contrato com a Globo – sendo ele ator e tendo participado de produções importantes da Casa como a série Segunda Chamada (em que faz par romântico com Lina Pereira) e Malhação – e tendo a vida “devassada” por críticas para qualquer passo que dê, Arthur enfrenta um pós-BBB bem mais difícil do que alguns dos eliminados nas primeiras semanas. Primeiro, fez sorteio de Iphones nas redes sociais – estratégia vista como fracassada no marketing digital. Depois, ironizou na saída de um show de Luan Santana dizendo que “estava cheio de robôs ali fora”, ao se referir aos fãs que o aguardavam – e a imagem mostrou pouco mais que uma dúzia de pessoas. Viu a esposa se afastar das redes sociais e fez o mesmo em seguida, e a especulação é a de que ele teria a traído pela 17ª vez – para quem a essa altura ainda não sabe, Maíra Cardi (também ex-BBB) descobriu 16 traições de Arthur há alguns anos, esparrou a informação na internet e o artista passou a ser visto como boy lixo. Se Jesus e Maíra perdoaram, boa parte da internet não: o cara entrou na casa do BBB no início do ano numa tentativa de reconstrução de imagem que, se deu certo para a Padaria – como se chama seu fandom – não surtiu efeito para a legião de pessoas que agora o cancelam.

Nesta terça-feira (17), mais um episódio acabou dando errado no pós-BBB de Arthur: ao se apresentar no Encontro com Fátima Bernardes, ele não conseguiu acertar as notas das músicas que cantou. E se tem Arthur, e se tem desafino, tem comentários aos montes pela internet. O professor de canto Márcio Guerra, que mantém um canal no Youtube em que promove o quadro “Desafinação Bizarra” fez um react das apresentações de Arthur e mostra, tecnicamente, os motivos pelos quais deu tão errado:

A gravação oficial dessa música, um feat com Matheus Fernandes, tem um lyric video no canal oficial de Arthur e, embora o artista demonstre não ter mesmo uma extensão vocal muito grande, é bem mais afinada. Compare:

Uma coisa é fato: Arthur merece respeito

Não se trata de passar a morrer de amores pelo Pãozinho, pode-se desgostar dele. O que acontece é que a internet pode ser bastante cruel com a vida das pessoas, em tempos em que a saúde mental é tão falada.

Arthur não está mais no game.

Segue sendo pessoa pública e, portanto, submetida à exposição ampla, mas ele precisa mesmo ser cancelado a cada aparição? Especialistas em marketing digital e psicólogos são maioria ao dizer que a construção de imagem depende unicamente de que a pessoa seja falada, para o bem ou para o mal – portanto, pode saber que a cada hate em Arthur, maior sua projeção (o que gera um efeito contrário do esperado por quem “odeia” alguém). Mas o fato de ter angariado um fandom tão ferrenho (e bastante equivocado ao promover o linchamento de qualquer pessoa que ouse criticar o pontinho de luz) é suficiente para que, a cada nova tentativa de promover sua imagem, venha um hate tão gigante?

Já não bastam os problemas na vida conjugal, o fato de sua antagonista no jogo (Jade Picon) ter sido contratada para exercer um ofício a que ele próprio se dedica há mais de 10 anos, o desinteresse por um documentário contando sua trajetória pelo Globoplay e os deslizes (desculpa, Padaria, mas é claro que houve) que ele cometeu no programa?

Este espaço certamente continuará acompanhando as movimentações de Arthur. Elas interessam a este público. Mas ainda que as notícias sejam desagradáveis, é mesmo necessário que cada indivíduo vá até as redes sociais do ator para agredir, debochar, diminuir sua humanidade?

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