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Dengue: Brasil deve bater a marca de 1 milhão de casos nesta semana

Brasil
Publicado em 27 de fevereiro de 2024
Dengue: Brasil deve bater a marca de 1 milhão de casos nesta semana
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Período mais crítico da contaminação ainda nem começou — o pico deve ser registrado nos próximos dois meses. Especialistas alertam para risco de colapso do sistema de saúde

Por Mayara Souto de Correio Braziliense

O Brasil pode alcançar, ainda nesta semana, a marca de 1 milhão de pessoas com dengue, a se confirmar a tendência de avanço da doença das últimas semanas — em apenas sete dias, houve o aumento de 267 mil casos. A atualização de ontem do Painel de Arboviroses do Ministério da Saúde mostrou que há 920.427 casos prováveis da doença, 184 mortes confirmadas e 609 em investigação em todo o país. Especialistas ouvidos pelo Correio alertam para a possibilidade de o segundo bimestre atingir patamares bastante elevados de infecção, com sobrecarga do sistema de saúde.

“Chegar a 1 milhão de casos é uma possibilidade concreta. A gente não pode esquecer que existe uma subnotificação também. Provavelmente, esses casos já sejam muito maiores. Historicamente, o pico da doença seria em março e abril, então, estamos na expectativa de que os casos vão aumentar”, alerta Paulo Petry, epidemiologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS).

A bióloga e professora do Departamento de Medicina da Universidade Federal de Lavras (MG), Joziana Barçante, confirma que o país vive uma alta de casos já prevista por epidemiologistas para o pós-carnaval.

“Embora não tenhamos no carnaval uma transmissão direta, pessoa a pessoa, você tem as viagens em que pessoas de áreas onde circula predominantemente o vírus do sorotipo 1, por exemplo, foram até uma locais com mais vírus do sorotipo 2”, explica.

As últimas três semanas epidemiológicas no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, registraram aumento de, pelo menos, 140 mil casos a cada 7 dias. O maior crescimento foi entre a última segunda-feira e a anterior, um salto de 653,6 mil casos para mais de 920 mil.

“Acredito que tenhamos um período de elevação ao longo deste ciclo epidemiológico. O esperado, normalmente, é que a gente tenha o pico de casos para março, abril, até maio, a depender da região. O inseto vetor (Aedes aegypti) precisa para se reproduzir de água, temperaturas elevadas e ambiente favorável. Se a gente pensar que ainda temos um período com essas características, nas próximas semanas e meses, há a expectativa de que a gente tenha a marca da 6ª semana epidemiológica superada”, acredita Barçante.

A bióloga disse ainda que o número de casos em janeiro foi o maior da história no país. “Temos alguns fatores importantes que contribuem para esse aumento. Um deles tem sido muito discutido, que são as alterações climáticas relacionadas ao El Niño, que muda o padrão de chuvas, de temperatura. Tudo isso favorece o ciclo do inseto vetor. A gente discute alteração climática há algumas décadas, mas temos vivenciado, na prática, esses efeitos de forma mais recente. E isso não tem sido só no Brasil, mas em termos globais”, explica.

Risco de colapso

A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) monitora os dados da dengue nas Américas desde 1980, e há uma tendência de aumento a cada pico de casos da doença no Continente. O Ministério da Saúde alertou, no início do ano, que a previsão é de recorde de casos neste ano, podendo atingir a marca de 4,5 milhões de doentes. Em todo o ano de 2023, foram 1,6 milhões de infectados no país.

Os especialistas alertam para os riscos no sistema de saúde. “Há, sim, o temor de que o sistema (de saúde) não consiga suportar esse aumento do número de casos, tamanha a necessidade de atenção. É bastante perigoso que tenhamos uma sobrecarga e, eventualmente, um colapso no sistema. É possível também que a mortalidade seja maior que nos últimos anos, não porque a letalidade é maior, mas pelo alto volume de pessoas infectadas”, alerta o epidemiologista, Paulo Petry.

“Foi um desgaste o enfrentamento que a gente teve na pandemia de covid-19 e, na sequência, uma epidemia em outra, de dengue e de covid. Hoje, a gente vive as duas simultaneamente”, lamentou Barçante.

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