Milhares de motociclistas e entusiastas do estilo musical se reuniram na Granja do Torto para o segundo dia do Capital Moto Week. O evento também foi palco do CB Talks, que teve como tema empreendedorismo e a participação feminina no motociclismo
Por Carlos Silva via Correio Braziliense
Brasília ferveu com o segundo dia do Capital Moto Week 2025, um dos maiores festivais de motos e rock da América Latina. Quem aproveitou para visitar o evento deu de cara com o tom do que será esta maratona de 10 dias: muita música, gente animada, ronco de motores e experiências inesquecíveis.
Com um pôr do sol vibrante e clima ameno, milhares de pessoas circularam pelos mais de 320 mil metros quadrados do complexo montado especialmente para o evento. Motociclistas de todo o Brasil e até do exterior chegaram com estilo, exibindo suas máquinas e os tradicionais coletes repletos de brasões de motoclubes. A expectativa é de que cerca de 800 mil pessoas passem pelo festival até o encerramento, em 2 de agosto.
No meio dos milhares de frequentadores, um visitante chamou atenção pelo nome curioso e pela simpatia. Ediones Ferramenta viajou 1.200 km do Rio de Janeiro até Brasília só para curtir o Capital Moto Week — e não se arrependeu. “Frequento vários eventos de moto e rock, e outros grandes encontros pelo país, mas todo mundo sempre falava que o Capital MotoWeek era o número um do Brasil e da América Latina. Isso me motivou a vir”, contou, animado.
Como bom fã de rock, ele não saiu de mãos vazias: visitou stands, comprou um boné oficial do festival e deu uma olhada em capacetes. Na programação musical, o destaque da noite para ele foi claro: “Estou empolgado para ver os Paralamas do Sucesso. É uma banda das antigas que continua entre as melhores do rock nacional”.
Não foram só a música e as motos que brilharam: a acessibilidade também deu show no evento, segundo frequentadores. Cadeirante, Marciley Angelino, de 46 anos, veio de Anápolis (GO). Ele participa do festival há 10 anos e não abre mão da tradição: acampa sempre com a esposa, Adjane Martins, 45, chega pilotando um triciclo puxando um mini-trailer e aproveita ao máximo os dias de evento. “Todo ano a gente vem. Fica uns quatro, cinco, até seis dias acampado. Esse ano não foi diferente, viemos com o triciclo e o trailer. Cada edição é melhor que a outra”, contou, sorridente.
O casal também destacou um ponto em comum que os encantou nesta edição: a acessibilidade. “Tem melhorado a cada ano. Os banheiros, as rampas, o espaço em geral… Está muito mais acessível”, afirmou Marciley. “A gente percebe mais pessoas com deficiência vindo, mais famílias participando. Isso mostra que o evento está se tornando cada vez mais inclusivo”, completou a esposa.
O espírito de coletividade, acolhimento e empreendedorismo que move o Capital Moto Week também foi pauta no CB Talks “Empreendedorismo Feminino e Liberdade Sobre Duas Rodas”, bate-papo promovido pelo Correio no festival com a presença de mulheres que fazem a diferença no universo do motociclismo. A roda de conversa reuniu Juliana Jacinto, organizadora do Capital Moto Week; Celina Martins, motociclista e empreendedora; e a jornalista do Correio Samantha Salum, que conduziu a conversa.
Juliana Jacinto, falou sobre os bastidores da produção e destacou a participação feminina crescente, tanto na organização quanto no motociclismo. “Fazer o Moto Week é algo que envolve muita gente. Desde a montagem, são mais de 20 mil postos de trabalho. E nosso time de coordenação e produção é 80% feminino. Cada detalhe — da cenografia à posição das plantas — tem o cuidado de muitas mulheres talentosas. Esse cuidado também se refletiu na participação do público. Hoje podemos dizer que 50% do nosso público é feminino”, afirmou.
Juliana também comentou sobre o espaço Lady Bikers, dedicado ao empreendedorismo feminino, que ela considera “o espaço do coração”. O local reúne stands de mulheres empreendedoras do Distrito Federal, selecionadas por meio de curadoria em parceria com o Sebrae. “Elas mesmas deixam o espaço com a cara delas. O empreendedorismo é isso: enxergar possibilidades. E eu fico muito feliz em ver isso acontecendo aqui. “
A motociclista Celina Martins compartilhou sua trajetória sobre duas rodas, iniciada aos 19 anos. Hoje, aos 33, acumula duas voltas pelo Brasil e viagens por oito países — sempre pilotando sozinha e, em boa parte das vezes, com uma moto de 150 cilindradas. “É um segundo tabu. A maioria aqui tem motos grandes, mas eu comecei com uma moto que muita gente usa no dia a dia. Já rodei mais de 300 mil quilômetros. Aprendi tudo sozinha, na estrada”, disse ela, que hoje inspira outras mulheres a ocuparem esse espaço.
Samantha Salum observou o aumento visível de mulheres pilotando no evento. “A maioria ainda vai na garupa, mas cada vez mais vemos mulheres conduzindo suas próprias motos”, disse a mediadora, destacando a transformação cultural promovida por iniciativas como o Lady Bikers.
Celina completou: “Só o fato de ser mulher viajante é um risco. Então é preciso planejamento. Comece com trajetos curtos, se acostume com a própria companhia. Aos poucos, a confiança vem”.
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