Classificados ao Mundial antes de entrar em campo com os resultados do dia, hermanos colocam os brasileiros na roda, controlam completamente o jogo, aplicam diferença gritante de técnica e constroem resultado com naturalidade. Seleção deixa a Data Fifa com mazelas e aprendizados
Por Danilo Queiroz via Correio Braziliense
Mesmo com Raphinha prometendo “porrada no campo” para competir contra a Argentina, o Brasil foi a nocaute sem sequer esboçar reação diante dos atuais campeões mundiais.
Com uma atuação extremamente apática, na noite desta terça-feira (25/3), no Estádio Más Monumental, a Seleção do técnico Dorival Júnior levou uma surra de bola, foi goleada por 4 x 1 e deixa a Data Fifa de Eliminatórias devendo bastante e com duras lições aprendidas.
Classificados antecipadamente à Copa do Mundo de 2026 graças ao tropeço da Bolívia contra o Uruguai, os hermanos viveram noite de êxtase em Buenos Aires.
O teste de fogo diante de uma seleção organizada e em constante evolução deixou queimaduras severas no trabalho da atual comissão técnica canarinha. Bastante modificado por desfalques (seis mudanças em relação à vitória diante da Colômbia), o Brasil sofreu com o entrosamento argentino. Os hermanos colocaram em campo um time com nove dos 11 titulares presentes na final da última Copa do Mundo e deixaram os principais rivais na roda. O toque de bola fácil gerou gols e evidenciou os problemas brasileiros. A postura apática gerou ainda mais preocupação.
A constante e fácil troca de passes da Argentina nos primeiros minutos de jogo evidenciou o tamanho da montanha a ser enfrentada pelo Brasil. Envolvente, a atual campeã do mundo levou quatro voltas no relógio para marcar. Almada se desvencilhou de Marquinhos, enfiou na área e encontrou Julián Alvaréz. Contando também com a sorte, o camisa nove saiu da marcação e marcou: 1 x 0. Rodando a bola na zona defensiva, os argentinos tiraram os primeiros gritos de olé e estontearam os rivais. O segundo saiu de pé em pé. No ataque, Molina cruzou rasteiro e encontrou Enzo Fernández para ampliar.
Inofensivo, o Brasil sofria com a pane geral e, quando tinha a bola, pouco produzia. Ciente do controle, a Argentina mantinha a tranquilidade e não apresentava pressa para atacar. No entanto, também arriscava errar. Com 26, Romero tentou sair jogando e perdeu a bola para Matheus Cunha. Sozinho, o brasileiro avançou e chutou da entrada da área para vencer Dibu Martínez: 2 x 1. Apesar de recolocar a Seleção no jogo em termos numéricos, o gol em esforço individual pouco impactou no andamento da partida no Monumental de Nuñez lotado.
Previsível, a Seleção Brasileira buscava o talento de Vini Junior, mas não brilhava. Chegando quando e conforme queria, a Argentina aproveitou o espaço para ampliar. Aos 36, Enzo deu passe preciso para Mac Allister adiantar a saída de Bento e tocar por cima. Dois minutos depois, o clima esquentou após desentendimento entre Raphinha e Tagliafico. Os quatro amarelos do primeiro tempo, inclusive, relembraram a temperatura do superclássico. Com a bola rolando, o cenário do jogo seguiu inalterado: domínio argentino e pouca reação canarinha.
Acuado, o Brasil voltou para o segundo tempo com Léo Ortiz, João Gomes e Endrick. As mudanças não surtiram efeito nem taticamente, nem na disposição da Seleção. Mesmo com mais tempo de bola no pé, os brasileiros tinham dificuldade de avançar e romper a marcação alta praticada pelos argentinos. Confortáveis e sem pressa, os donos da casa colocavam o repertório de jogadas em prática e quase ampliaram quando Julián Alvaréz aproveitou domínio errado de Ortiz e tentou de cobertura. Bento salvou. Aos 15, Tagliafico se projetou por trás da zaga e assustou de cabeça.
Nessa altura, a Seleção ainda não havia finalizado. Embora o time tentasse, as jogadas sempre esbarravam na linha de marcação argentina ou nos erros da equipe brasileira. Conforme o tempo avançava, os hermanos não aceleravam a partida. O quarto gol, aos 26, foi a prova da bagunça canarinha. Tagliafico cruzou errado, Arana e Marquinhos bateram cabeça e Giuliano Simeone, mesmo sem ângulo, acertou um chute forte, sem chance de defesa para Bento. O lance inflamou o já aquecidíssmo Monumental de Nuñez e abalou de vez a equipe nacional.
Embora o Brasil tenha ameaçado com cobrança de falta de Raphinha no travessão, o cenário do jogo não mudava. Confortável, Martínez chegou a fazer embaixadinhas ao receber um recuo. A Argentina mantinha a facilidade na construção. Aos 35, Paredes arriscou de fora da área e exigiu grande defesa de Bento. Com a vitória garantida, a torcida da casa aumentava o volume dos gritos de “olé”. Os donos da casa ainda tiveram a oportunidade de dar rodagem à nova geração com as substituições. Apenas um detalhe a mais em uma noite na qual tudo deu certo para os argentinos. Para os brasileiros, resta digerir os impactos da péssima atuação.
O Brasil teve poucos momentos de sobriedade durante o jogo. A noite apagada individual e coletivamente confirmou, ainda, o tamanho da diferença atual entre os principais rivais do continente. O placar não foi maior somente pela excessividade de tranquilidade dos argentinos em campo. Donos do gramado, eles ditavam o ritmo do jogo e aceleravam conforme tinham vontade. O cenário quebrou uma escrita de 52 anos. Depois de 62 jogos, a Seleção Brasileira voltou a perder por três gols de diferença para os principais rivais. A última vez foi no 3 x 0 de 24 de março de 1963.
Argentina 4 x 1 Brasil
Eliminatórias da Copa do Mundo
Estádio Más Monumental
Argentina
Emiliano Martínez; Molina, Romero, Otamendi e Tagliafico (Medina); Enzo Fernández, Paredes (Palacios), De Paul, Mac Allister (Nico Paz) e Almada (Giuliano Simeone); Julián Álvarez (Ángel Correa). Técnico: Lionel Scaloni
Gols: Julián Álvarez (4′ 1ºT), Enzo Fernández (12′ 1ºT), Mac Allister (36′ 1ºT) e Giuliano Simeone (26′ 2ºT)
Cartões amarelos: Tagliafico, Almada, Otamendi, De Paul e Enzo Fernández
Brasil
Bento; Wesley, Marquinhos, Murillo (Léo Ortiz) e Guilherme Arana; André (Ederson), Joelinton (João Gomes) e Raphinha; Rodrygo (Endrick), Vinicius Junior e Matheus Cunha (Savinho). Técnico: Dorival Júnior
Gols: Matheus Cunha (26 1ºT)
Cartões amarelos: Murilo, Raphinha, André, Leó Ortiz e Endrick
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