

Após uma década longe das novelas, Fernanda Vasconcellos celebra 20 anos de carreira em grande estilo mergulhando no lado sombrio de Samira, em “Três Graças”. “A vilania me oferece um campo de criação muito estimulante”, declarou a atriz
Por Patrick Selvatti - Correio Braziliense
Completando 20 anos de uma carreira sólida e multifacetada, Fernanda Vasconcellos representa a essência da atriz que busca constante amadurecimento e novos desafios.
Conhecida por papéis icônicos que marcaram gerações — como as sofridas Nanda de Páginas da vida (20006) e Ana de A vida da gente (2011) —, desde a estreia em Malhação (2005), a paulistana de 41 anos construiu sua trajetória com personagens que evocavam delicadeza e força.
Após uma pausa estratégica de 10 anos das novelas — a última foi Haja coração, de 2016 —, período no qual se dedicou ao cinema, ao streaming (em projetos como Coisa mais linda, que ela considera um dos mais marcantes) e à maternidade (ela é mãe de Romeo, fruto do casamento com o também ator Cássio Reis), Fernanda retorna à TV Globo em grande estilo, assumindo o papel da complexa vilã Samira em Três Graças — uma discreta chef de cozinha que vende o bebê de Joélly (Alana Cabral) e Raul (Paulo Mendes).
“Agora, o desafio é outro. A vilania me oferece um campo de criação muito estimulante”, observa ela, que retorna pela primeira vez ao horário nobre que a consagrou em 2006 e rendeu-lhe o prêmio de Atriz Revelação daquele ano.
À Revista do Correio, Fernanda Vasconcellos abre o coração para falar sobre o significado desse marco de duas décadas, a transição de mocinhas angelicais, como as que viveu também em Desejo proibido (2008), Tempos modernos (2010) e Sangue bom (2013), para a complexidade da vilania, o aprendizado em outras mídias e os planos para o futuro.
Confira a entrevista.

Vinte anos de carreira como atriz. O que esse marco representa para você?
Completar 20 anos de carreira tem um significado enorme para mim. Essa trajetória foi construída com muito amor e, quando revisito minha história, percebo o quanto cada etapa foi importante e contribuiu para o meu amadurecimento como atriz. É um caminho com desafios, mas que valeu e continua valendo muito a pena.
Você é muito lembrada por seu papel como Nanda em Páginas da vida. O que você mais aprendeu com esse trabalho?
Interpretar a Nanda foi enriquecedor e representou um divisor de águas na minha carreira. Ali, eu amadureci e aprendi verdadeiramente o ofício de atriz, a lidar com a profundidade de emoções, com o peso das escolhas da personagem, e com a responsabilidade de dar vida a alguém tão vulnerável e cheio de dilemas.
Você interpretou muitas mocinhas em suas novelas e, agora, com Samira, em Três Graças, está dando vida a uma vilã pela segunda vez (teve a Bruna, de Haja coração). Como é viver uma personagem tão diferente das que costuma fazer?
Agora, o desafio é outro. A personagem exige malícia, controle emocional e uma moral torta, características que pedem um tipo diferente de entrega. A Samira é complexa e misteriosa, cheia de camadas e ambivalências, o que requer um processo profundo de imersão.
O que a vilania traz de especial a uma atriz conhecida pela faceta mais angelical?
A vilania me oferece um campo de criação muito estimulante. Por ser mais conhecida por personagens de traços delicados, mergulhar em uma figura com um lado obscuro, como é o caso da Samira, amplia meu repertório e me desafia a explorar lugares que ainda não tinha acessado. Interpretar uma vilã traz nuances, contradições e uma profundidade emocional que enriquecem muito minha experiência como atriz. É mais uma etapa no processo do amadurecimento como atriz.
O que te levou a dar uma pausa da televisão por 10 anos e a se dedicar a outros projetos?
A pausa das novelas aconteceu de forma muito natural. Surgiu o convite para a série Coisa mais linda (Netflix) e, na sequência, filmei dois longas — Volume morto e Cisterna, experiências que foram muito enriquecedoras para mim. Depois, veio a pandemia e, ainda assim, consegui filmar Jardim dos Girassóis. Logo em seguida, engravidei e decidi me dedicar integralmente ao meu filho pelos primeiros três anos, algo muito importante para mim. Voltei aos palcos com a minha querida e amada Ana Beatriz Nogueira em Senhora Klein, uma parceria que foi um grande aprendizado e marcou minha vida.
Como foi a experiência de se afastar da tevê e como você se sentiu ao retornar?
Foi uma experiência que me proporcionou conhecer novos profissionais, estar em contato com diferentes roteiros e vivenciar projetos com estruturas variadas. E o retorno foi mágico, porque voltar à dramaturgia das novelas traz um sentimento de reencontro, quase um resgate da minha própria história na profissão.
Você trabalhou em séries e cinema durante o seu hiato. O que aprendeu com essas experiências e como elas lhe ajudaram a crescer como atriz?
Aprendi a expandir meus horizontes. Trabalhar em outras produções me permitiu ultrapassar limites, experimentar novas linguagens e explorar um leque de possibilidades que eu ainda não conhecia em mim como profissional. Foi um período de crescimento, que ampliou minha percepção sobre o meu trabalho.
Qual é o seu projeto mais marcante fora das novelas? E qual é o seu trabalho, depois de Nanda, pelo qual você tem um afeto mais especial?
A série Coisa mais linda, da Netflix. É impossível escolher um único trabalho. A personagem nem sempre é um lugar confortável, às vezes ela machuca, mas a jornada sempre te transforma. Cada papel deixa marcas na memória, na consciência, no coração e até no corpo. Por isso, tenho um afeto especial por cada um deles.
Samira inaugura uma nova fase na sua carreira?
A Samira marca um momento especial na minha carreira, uma nova etapa em que me sinto mais segura e renovada. Uma personagem tão complexa me faz acessar um novo lugar como atriz, mais maduro e sereno.
E os planos para o futuro? Você tem algum projeto em mente?
Você acha pouco voltar a fazer novela depois de 10 anos? (risos). Esse retorno é um grande passo, é um recomeço cheio de trabalho, entusiasmo e dedicação. Estou vivendo intensamente esse momento e deixando que os próximos projetos cheguem no tempo certo.
Nos próximos 20 anos, como você quer que o público lembre de você como atriz?
Quero que o público se lembre de mim como uma boa atriz, alguém que se dedicou de verdade aos personagens e ao trabalho.

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