Segundo a atriz, a Defensoria Pública registrou 4.500 acessos por minuto ao aplicativo do órgão logo após a exibição de cena de Lucimar. Mulheres ampliam buscar de informações sobre o direito à pensão alimentícia por meio da personagem da novela
Por Patrick Selvatti via Correio Braziliense
A faxineira Lucimar, personagem vivida por Ingrid Gaigher na nova versão da novela Vale tudo, ultrapassou a ficção e provocou um impacto real na vida de milhares de brasileiras.
Em uma cena recente, em que Lucimar entra com um pedido de pensão alimentícia para o filho, a reação foi imediata: segundo dados compartilhados pela própria atriz ao Correio, a Defensoria Pública registrou 4.500 acessos por minuto ao aplicativo do órgão logo após a exibição do capítulo.
Em apenas uma hora, mais de 270 mil mulheres buscaram informações sobre o direito à pensão — muitas inspiradas pela coragem de Lucimar.
“Recebi uma mensagem da Defensoria e fiquei completamente emocionada. Isso mostra o poder que a novela tem no Brasil. É muito gratificante fazer parte de algo que tem um alcance tão rápido e tão potente”, comenta Ingrid.
Carioca, atriz, bailarina e cantora, Ingrid Gaigher constrói uma carreira sólida nas artes cênicas, com passagem por teatro, cinema e streaming. Ela participou de produções como LOV3 (Amazon), Segunda chamada e Carcereiros (Globoplay), além de ter atuado nos palcos em montagens como West Side Story e Gabriela Cravo e Canela. Em Vale tudo, sua segunda novela — a primeira foi Quanto mais vida melhor! (2021) —, Ingrid dá vida a uma mulher carismática, batalhadora e dona de um senso de humor cortante — traços que rapidamente conquistaram o público.
“Lucimar tem algo de coro da novela. Ela fala o que muita gente pensa, mas não diz. E isso é muito divertido de interpretar”, diz a atriz. Para construir a personagem, Ingrid mergulhou em um extenso processo de pesquisa. Conversou com mães solo, diaristas, assistiu a filmes, palestras e estudou o tema da pensão alimentícia. “Queria entender onde está a dor, mas também onde está a força e a criatividade dessas mulheres que fazem de tudo pelos filhos.”
A dinâmica com os outros personagens também é essencial na construção da personagem. “Lucimar se apresenta para os patrões com a mesma energia com que lida com o filho. Ela é prática, simples, precisa se virar em 30. E se diverte enquanto trabalha. Isso torna a personagem muito coerente.”
Ingrid assistiu a trechos da versão original de Vale tudo para se inspirar em Maria Gladys, que interpretou a Lucimar de 1988. “Não quis ver tudo, porque sabia que teria facilidade em imitá-la. Preferi absorver o que ela construiu, que foi genial, e trazer uma homenagem discreta em alguns momentos”, explica.
Evitar a caricatura foi um dos grandes desafios, segundo a atriz. “É fácil cair no estereótipo da diarista cômica, mas eu quis encontrar uma verdade. Fui lapidando isso ao longo dos meses com ajuda do diretor Paulo Silvestrini e da preparadora Cris Moura.”
Para Ingrid, a nova versão da novela carrega mensagens fundamentais para o Brasil de hoje. “A maternidade solo é uma grande reflexão. O número de crianças criadas em famílias monoparentais só cresce. Além disso, temos discussões importantes sobre sexualidade, influência nas redes e o papel da mulher na sociedade. É outro Brasil 37 anos depois.”
Com apenas sua segunda novela no currículo, Ingrid celebra a conquista e já planeja os próximos passos. “Quero fazer mais teatro, escrever, realizar meus projetos autorais, fazer mais cinema. Tem muita coisa que ainda quero viver como artista.”
E se depender da repercussão de Lucimar, esse é só o começo. “Espero que lembrem da Lucimar como uma personagem que gerou identificação, que teve força e humanidade. E que, quem sabe, daqui a alguns anos, o tema da pensão alimentícia já esteja superado. Mas, por enquanto, ela ainda precisa existir.”
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