Por Davi Cruz*, Letícia Guedes e Mariana Saraiva via Correio Braziliense
A qualidade do ar no Distrito Federal deve melhorar a partir desta terça-feira (27/08), segundo o Instituto Brasília Ambiental (Ibram). “Esperamos que a partir de meio-dia haja uma melhora, pois no Sudeste choveu e os incêndios que lá estavam devem ter sido controlados”, disse o presidente do órgão, Roney Nemer, em coletiva realizada na tarde de ontem.
Ele destacou que esta é a primeira vez que o Distrito Federal enfrenta uma situação como esta. “Sempre tivemos que lidar com a poluição gerada localmente, mas, desta vez, não só o DF, mas também Goiás e a região do Entorno estão recebendo poluentes vindos de outras áreas”, explicou.
De acordo com Nemer, a poluição visível no ar não se origina no Distrito Federal. Os meteorologistas explicam que uma frente fria chegou ao Sudeste e trouxe os poluentes, como as fumaças de queimadas e incêndios, para a região central do Brasil.
O Ibram informou que o último dado, colhido às 15 horas desta segunda-feira (16/08), pela Estação de Monitoramento da Qualidade do Ar da Fercal, indicou que a concentração de partículas era de 31,04 microgramas/m³ (PM2,5) e 62,98 microgramas/m³ (PM10). Esses valores mostram uma redução significativa na concentração de poluentes desde o pico registrado na noite anterior, que foi de 168,6 microgramas/m³ (PM2,5) e 226,5 microgramas/m³ (PM10). Apesar da melhoria, o índice de qualidade do ar foi classificado como “ruim”, devido às médias de concentração das últimas 24 horas.
O Secretário de Estado do Meio Ambiente e Proteção Animal (Sema), Gutemberg Gomes, destacou a criação de um grupo de trabalho pelo governador Ibaneis Rocha para enfrentar a situação. “Esse grupo será específico para trabalhar na qualidade do ar no DF. Estamos enfrentando uma situação inédita e pedimos à sociedade que continue nos ajudando, denunciando focos de incêndio e evitando o uso do fogo em um momento tão seco”, acrescentou. A primeira reunião do grupo está prevista para esta terça-feira (27/08).
“Publicamos o decreto que institui a Comissão para elaboração de Plano para Episódios Críticos de Poluição do Ar no Distrito Federal. Composto por 17 órgãos do GDF e sob a coordenação do Instituto Brasília Ambiental, terá um prazo de 90 dias para a elaboração das ações”, informou Ibaneis, ontem, em suas redes sociais.
O governador ressaltou que “neste período de seca, temos que lidar constantemente com queimadas e fumaça, mas esta foi a primeira vez que os índices da qualidade do ar atingiram níveis ruim e péssimo”.
“Com essa comissão regulamentada, além de enfrentar a situação atual, já deixaremos a cidade preparada, caso aconteça novamente uma situação semelhante”, finalizou.
Na segunfa-feira (26/08) pela manhã, os brasilienses tiveram a sensação térmica de mais frio. Isso porque a fumaça provocou uma espécie de “tampão”, retendo o frio da madrugada e deixando a umidade alta.
Sem previsão de chuvas para os próximos dias, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a expectativa é de que a mudança na direção dos ventos, prevista para a tarde de hoje, melhore as condições atmosféricas do DF.
Entretanto, a fumaça que encobriu a capital persiste, agravando a qualidade do ar e trazendo riscos à saúde dos brasilienses. A situação tem gerado impactos significativos na vida da população do DF. O arquiteto e designer Will Magris decidiu usar máscara devido à piora na qualidade do ar. “Eu vi na internet falando sobre as partículas de fumaça e fiquei preocupado. Fiz uma cirurgia recentemente no nariz e nos últimos dias senti muito formigamento. Está difícil de respirar, seja em casa ou fora”, comentou.
Edenice Aparecida Kamers, mãe de Samantha Kamers, uma criança autista e com problemas respiratórios, relatou as dificuldades enfrentadas pela família nos últimos dias. “A fumaça piorou muito a condição da minha filha, que tem asma, bronquite, rinite e sinusite. Meu marido também tem asma, e as noites têm sido muito ruins. A fumaça está afetando completamente a nossa rotina”, desabafou.
Por conta da baixa umidade, vale tomar alguns cuidados para evitar problemas de saúde: manter boa hidratação, umedecer periodicamente as narinas e os olhos com soro fisiológico, utilizar umidificador, baldes ou bacias com água ou panos molhados para elevar a umidade, não praticar atividades físicas no período de calor, dar preferência a refeições leves e se proteger do sol.
Além disso, a dermatologista Luana Portela, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia do Distrito Federal, alertou para os impactos da fumaça na saúde da pele. “A fumaça aumenta o ressecamento e pode agravar condições como eczema, rosácea e dermatite. Recomendamos o uso de sabonetes suaves e hidratantes para melhorar a barreira cutânea e protetor solar acima de FPS 30”, orientou.Segundo a Secretaria de Saúde do DF (SES-DF), desde que a névoa de fumaça formou-se, não houve aumento, por enquanto, na demanda para atendimentos relacionados a doenças respiratórias nos hospitais da rede pública da capital.
Devido ao agravamento das condições climáticas, a Secretaria de Esporte e Lazer do Distrito Federal decidiu suspender as aulas nos 12 Centros Olímpicos e Paralímpicos, na manhã de ontem. A medida foi tomada para garantir a segurança e o bem-estar dos alunos, uma vez que a combinação de fumaça, baixa umidade e temperaturas elevadas representa um risco à saúde.
Apesar da quantidade de fumaça e da recomendação dos especialistas, as aulas não foram suspensas na rede pública de ensino do DF. A Secretaria de Educação do DF (SEEDF) informou que a decisão de manter as aulas foi tomada após conversa entre a secretária de Educação, Hélvia Paranaguá, o subsecretário do Sistema de Defesa Civil, Evandro Tomaz de Aquino, e o comandante do Corpo de Bombeiros (CBMDF), coronel Sandro Gomes.
Hélvia Paranaguá destacou que a decisão se baseia em dados técnicos e no acompanhamento contínuo da situação ambiental. “Nosso objetivo é garantir que as escolas funcionem de maneira segura. Estamos atentos e preparados para agir rapidamente se a situação se agravar,” afirmou a gestora.
O diretor jurídico do Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino no DF (Sinproep-DF), Rodrigo de Paula, informou que algumas escolas particulares suspenderam, por iniciativa própria, atividades ao ar livre. O sindicato acredita que, se a fumaça não se espalhar, o ideal será suspender as aulas.
Diretora do Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF), Márcia Gilda relatou que recebeu a informação de que alguns alunos sentiram dores de cabeça e ânsia de vômito durante as aulas de ontem. Para o Sinpro, o ideal é que o GDF crie um protocolo para esta época do ano. “Nós temos escolas arejadas e cobertas, mas também temos espaços precários, com péssima ventilação, não dá para tratar como um todo”, avaliou Márcia.
Em coletiva de imprensa, também realizada ontem, o major Godoy, do CBMDF, informou que a Operação Verde Vivo, que tem seis fases, está, agora, quase entrando na quinta, que ocorre em setembro, quando o quadro de queimadas é considerado mais grave. “O CBMDF trabalha com inovações tecnológicas, muito com monitoramento remoto, o que faz com que a gente observe incêndios e se mobilize antes mesmo da população nos acionar.” O major informou que, neste momento, mais de 100 militares, divididos em 22 viaturas, trabalham na causa.
As chamas também foram responsáveis por aquecer as vendas nas farmácias. Para amenizar os prejuízos provenientes da fumaça, os moradores do DF procuraram por máscaras, soro fisiológico e umidificadores.
Na drogaria Trevo, localizada no Sudoeste, a venda de máscaras aumentou em 60% de sábado para ontem. Contudo, a alta não foi somente na procura por máscaras. Segundo Jefferson Peres, responsável pelo estabelecimento, os moradores da região também buscaram medicamentos para dores de cabeça e hidratantes nasais. “Nós analisamos em nossos gráficos que desde o fim da pandemia não havia uma procura tão grande pelas máscaras quanto hoje (ontem)”, informou.
“Estamos com expectativa que as vendas aumentem ao longo do dia e, se o tempo continuar assim, ao longo da semana também”, disse. Ela contou que a alta ocorre desde o início de agosto e que, durante as compras, as pessoas desabafam o desconforto com a fumaça, poeira e com a baixa umidade.
A moradora de Águas Linda Raidalva Cardoso, 56 anos, contou que, inicialmente, acreditou que a fumaça se tratava de uma queimada perto de casa. Quando soube da proporção do evento, resolveu que voltaria, imediatamente, a usar máscara, pois é portadora de problemas respiratórios e se sente mais segura utilizando o item. “Eu acho que as pessoas precisam tomar providências para que isso não aconteça mais; como não tem chuva, qualquer bituca de cigarro se transforma em um fogaréu, então as pessoas precisam ter consciência de apagar bem e não jogar as bitucas em qualquer lugar”, declarou.
Na casa do cobrador Valdemar Sousa, 70, no Recanto das Emas, a cortina de fumaça gerou debates. Segundo ele, alguns acreditavam que era neblina, mas outros preocupavam-se desde o início com a possibilidade de se tratar de fumaça. “Eu disse para eles: ‘se isso for fumaça, então estão queimando o mundo todo”, brincou. Ele relatou que ficaram impressionados quando souberam que realmente tratava-se de fumaça, pois jamais haviam visto algo parecido.
Como a fumaça pode prejudicar a saúde?
A fumaça gerada pelas queimadas de matéria orgânica contém vários gases que podem ser prejudiciais à saúde, como gás carbônico, monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio, entre outros. Contém também fuligem, poeira e outras partículas suspensas. Todos esses compostos podem ser prejudiciais à saúde, provocando irritação nas mucosas de olhos, nariz, garganta e brônquios, podendo desencadear crises de asma e rinite.
O que fazer para se proteger nesse período? A indicação é o retorno imediato de máscaras?
O uso de máscaras é recomendado por reduzir a inalação dessas partículas e nos proteger desses efeitos. Também é recomendado evitar exposição prolongada a ambientes abertos e ao sol até melhora da situação. Preferir ambientes fechados com uso de ar condicionado. Umidificadores nos ambientes fechados também ajudam a minimizar os prejuízos. Aumentar a hidratação com ingestão de líquidos, hidratar a pele e as mucosas nasais e oculares com soro fisiológico e colírios próprios. Evitar praticar exercícios físicos intensos no período mais quente do dia, entre 11 e 16h. Especial cuidados às crianças e aos idosos, que têm maior risco de desidratação.
Quando o Índice de qualidade do ar está acima de 200, devemos seguir as recomendações já citadas: aumentar hidratação, evitar exposição desnecessária, ou seja, permanecer em ambientes fechados sempre que possível, evitar praticar exercícios físicos ao ar livre e usar máscaras faciais de proteção. As aulas de educação física ao ar livre devem ser suspensas temporariamente.
Milena Zamian, pneumologista do Iges-DF
Prevenção
Fonte: CBMDF