Aprovada no Senado, MP que amplia crédito consignado preocupa economistas e parlamentares, que veem risco de superendividamento, uso indevido do FGTS como garantia e pressão sobre famílias de baixa renda já afetadas por inadimplência recorde
Por Vanilson Oliveira via Correio Braziliense
A aprovação da Medida Provisória nº 1.292/2025, que amplia o acesso ao crédito consignado para trabalhadores com carteira assinada, microempreendedores e motoristas de aplicativo, gerou reações cautelosas entre economistas.
Embora a medida seja considerada um alívio imediato para o orçamento de milhões de brasileiros, especialistas alertam para os riscos que ela pode representar no médio e longo prazo, tanto para as finanças das famílias quanto para a estabilidade da economia nacional.
Para o economista e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Davi Lelis, a medida pode até oferecer um alívio imediato, mas tende a aprofundar distorções já recorrentes nas políticas econômicas do país. “Essa medida pode trazer um fôlego de curto prazo para algumas pessoas da população, para alguns trabalhadores, mas ela é muito delicada e perigosa no médio e no longo prazo”, afirma.
Segundo ele, o problema está em incentivar o consumo sem ampliar a renda ou a capacidade produtiva. “Essa é uma medida de incentivo ao consumo, de incentivo à demanda. Não é um consumo saudável de longo prazo, é um consumo pontual que depois as pessoas vão ter que pagar”, explica.
O economista lembra, ainda, que 76 milhões de brasileiros estão inadimplentes e que 78% das famílias convivem com algum tipo de dívida — quadro que, segundo ele, pode se agravar com a nova modalidade de crédito. “Você também piora esse lado do endividamento das famílias”, alerta.
Outro ponto crítico levantado por Lelis é o uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) como garantia, o que compromete a segurança previdenciária dos trabalhadores no futuro. “Estão pegando um crédito de curto prazo às custas do que seria a aposentadoria de longo prazo (…) para pagar remédios, para pagar um home care, para pagar um tratamento de saúde, e lá na frente eles vão ter consumido esse crédito e não vão ter aposentadoria.”
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