

O “Enem dos Professores”, aplicado nesse domingo (26), gerou forte repercussão entre os candidatos. Eles apontaram problemas estruturais nas salas e avaliaram a prova como cansativa e com conteúdos repetitivos. A data da segunda chamada ainda não foi divulgada
Por Correio Braziliense
O ministro Camilo Santana, do Ministério da Educação (MEC), determinou a reaplicação da Prova Nacional Docente (PND) nos locais onde foram identificadas intercorrências durante a aplicação. Críticas às condições adversas de aplicação da prova levaram à decisão. Na reaplicação, será utilizada prova reserva, com os parâmetros da Teoria da Resposta ao Item (TRI), mesma metodologia do Enem. O Inep identificou, junto à Fundação Getulio Vargas, responsável pela aplicação, problemas em 11 locais de prova, mas não divulgou as escolas que tiveram problemas. A data para a segunda chamada ainda será divulgada.
O exame, que tem como objetivo avaliar a qualidade das licenciaturas e futuramente auxiliar na seleção de professores da educação básica pública, foi realizado em 2.637 locais de 751 municípios brasileiros. Também foi criticado pelo formato extenso. Participantes relataram questões muito longas, repetitivas, amplamente teóricas e pouco vinculadas ao cotidiano escolar, além de apresentarem cenários excessivamente administrativos. “As questões foram muito extensas, deveriam ter sido aplicadas em dois dias, como acontece no Enem” disse a professora de matemática Lele Teixeira, do Ceará. Embora o exame tenha sido planejado para um número padrão de questões e a produção de uma redação, muitos candidatos consideraram a quantidade maior do que a esperada. Além disso, os participantes fizeram tudo em uma única aplicação de seis horas.
As críticas também apontaram problemas estruturais nos locais de prova. Na Bahia, Paulo Vinicius Ramos, formado em letras-inglês, relatou que precisou colocar seus pertences no chão devido ao estado das mesas. A falta de espaço nas salas de aula também foi reportada, obrigando candidatos a se realocarem para outros ambientes da escola, como pátios e refeitórios, com mesas compartilhadas e fiscalização inadequada. “Além de que minha sala não tinha nenhuma ventilação, nem ar-condicionado”, afirmou Ramos. A falta de ventilação adequada, mobiliário em más condições e atrasos durante o processo de aplicação foram outros problemas citados.
Francys Kleybson, professor de educação física, critica a prova como modelo de avaliação dos docentes. “O ponto que considero mais preocupante é utilizarem a prova para avaliar professores, em um contexto de escolas que não oferecem o básico. Algumas abordagens cobradas não refletem a realidade das estruturas precárias que enfrentamos diariamente”, afirmou. Anderson Rannier, formado em biologia e no processo de doutorado, afirmou que a elaboração poderia ter sido mais cuidadosa, apontando que algumas questões exigiam que os candidatos “adivinhassem” a metodologia esperada, tornando a avaliação subjetiva e desgastante para quem já atua no magistério.
Para Jéssica Souza, educadora especial de uma escola da rede estadual de São Paulo, a prova foi bem- estruturada e fundamentada, abordando temas, como inclusão e metodologias ativas, mas pecou no formato “gerando exaustão somada às falhas na estrutura e logística de aplicação, como a falta de padronização nos procedimentos”. Também pontuou não haver aplicação da prova para profissionais da educação especial.
Fran Mendes é humorista e traz questões relevantes do mundo da educação por meio de vídeos na internet. Por meio da personagem “Tia Fran”, ele objetiva dar visibilidade aos professores. “Uma classe frequentemente esquecida e pouco valorizada pelo sistema educacional”, afirma Mendes. A iniciativa busca destacar temas relevantes sobre a vida e os desafios da categoria docente.
A pedagoga e criadora de conteúdo Sarah Costa realizou a prova em Santa Catarina. Nas redes sociais, optou por trazer o debate com leveza, utilizando o humor para refletir sobre questões sérias como o idadismo, tema da questão discursiva, e o cansaço gerado pela extensão da prova. Para ela, é importante abrir espaço para conversas sobre os desafios enfrentados pelos docentes de maneira acessível, mas mantendo o tom crítico, incentivando o debate público sobre a aplicação e a estrutura do exame.

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