A médica Roberta Saretta, responsável por acompanhar Preta Gil em parte de sua luta contra o câncer, compartilhou detalhes sobre os últimos momentos da artista. Ela esteve ao lado da cantora nos Estados Unidos, onde Preta buscava uma alternativa de tratamento.
Em conversa com o jornal O Globo, Roberta recordou o episódio mais doloroso dos dois anos e meio de acompanhamento: a entrega do resultado do último exame de imagem, realizado em março de 2025. O laudo indicava que a doença havia se espalhado para o fígado e os pulmões.
“Além do dia da morte, foi quando eu tive de dar a notícia do resultado do último PET, em março de 2025. O exame mostrou que a doença tinha se espalhado por outros órgãos, como fígado e pulmões. Fui na capela do Sírio pedir forças. Quando entrei para falar com ela, o quarto estava cheio de amigos, como sempre. Perguntei se ela preferia ter a conversa a sós com os médicos. Pela primeira vez, ela pediu para as pessoas saírem”, relatou a médica.
Ao receber a notícia, Preta quis saber quanto tempo ainda teria de vida, o que motivou a tentativa de um tratamento experimental nos Estados Unidos. “Tenho a impressão que ela me sentiu, viu no meu rosto algo estranho. Não tinha como ser diferente, meu vínculo com ela, com a família toda, era e é profundo. Senti uma faca no meu peito. Ao saber, ela me perguntou: ‘Se eu não fizer nada quanto tempo tenho de vida?’. Respondi: ‘De seis a oito meses’. [Ela perguntou] ‘Tem alguma coisa para eu fazer? Eu vou morrer?’. Explicamos então que havia protocolos de pesquisa nos Estados Unidos com medicamentos que poderiam evitar a progressão rápida”.
Segundo Roberta, a terapia consistia em quimioterapia intravenosa direcionada a uma mutação específica, porém o câncer apresentava múltiplas alterações genéticas. Após quatro sessões, a cantora desenvolveu uma infecção e precisou suspender o tratamento por dez dias. Depois de mais uma aplicação, os rins apresentaram fragilidade e a doença avançou, levando à interrupção definitiva do protocolo.
“Era uma terapia alvo, uma quimioterapia intravenosa. Ela agia contra uma mutação. Mas o câncer da Preta tinha mais de uma mutação. Depois de quatro sessões ela teve uma infecção e precisou interromper o protocolo, ficou uns dez dias sem o tratamento. Voltou, fez mais uma sessão e notaram que os rins estavam enfraquecidos, a doença havia progredido. Ela teve de parar”, contou.
Roberta foi então aos Estados Unidos para acompanhar o retorno da artista ao Brasil. “Recebi a notícia numa quinta-feira, cheguei com a Flora na casa em que ela estava em Nova York no sábado de manhã. Quando me aproximei, ela arregalou os olhos grandes e lindos e eu falei: ‘Vamos para casa’. Programamos a volta para o dia seguinte. Eu voltaria com ela em um avião UTI do aeroporto de Long Island, Flora com os familiares e amigos em um voo comercial, do aeroporto JFK”, explicou.
A médica descreveu que, ao sair de casa de ambulância rumo ao aeroporto, todos os sinais vitais de Preta estavam estáveis. Durante a viagem de cerca de uma hora e vinte minutos, Roberta permaneceu olhando para a cantora e reforçando que a levaria de volta para casa. Ao chegar ao aeroporto, Preta passou mal e vomitou. “Quando a ambulância chegou para levá-la ao aeroporto e os paramédicos mediram as taxas, ela estava estável, com índices normais, pressão, eletro, tudo. Ela queria, com todas as forças, chegar no Brasil. Durante o trajeto de uma hora e 20 minutos de viagem até o avião, fiquei de frente para ela, repetindo que a levaria para casa. Ela foi acordada o tempo todo. Ao chegar no aeroporto, ela passou mal, vomitou”, disse.
E continuou: “‘Estamos quase lá’, eu falei. ‘Preta, você dá conta de viajar? Segura mais um pouco?’. E ouvi a resposta: ‘Não dou conta’. Pedi para o paramédico nos levar ao hospital mais próximo. Chegamos em oito minutos. Quiseram reanimá-la, poucos minutos depois ela se foi”.
Leia Mais:
Amigos de Preta Gil lançam música inédita da cantora
Carolina Dieckmann celebra dia em que Preta Gil faria aniversário
© ClubeFM 2021 - Todos os direitos reservados