Por Vitória Torres de Correio Braziliense*
Faltando quatro dias para o fim da Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite, o Brasil corre contra o tempo para alcançar a meta de vacinar pelo menos 95% do público-alvo (crianças abaixo dos cinco anos de idade), estipulada pelo Ministério da Saúde. Isso porque a adesão à imunização contra a erradicação da poliomielite está em ritmo lento.
Um dos fatores que tornam a campanha deste ano importante é a transição do esquema vacinal no país. A partir do segundo semestre de 2024, a vacina oral poliomielite (VOP) — a gotinha — será substituída por um reforço exclusivo com a vacina inativada poliomielite (VIP). A imunização é a única forma de prevenção contra a doença e a VIP é considerada mais segura e eficaz.
No sábado passado, realizou-se o Dia D contra a Poliomielite para aumentar o número de crianças vacinadas. De acordo com o Ministério da Saúde, a meta era atingir cerca de 13 milhões de crianças menores de cinco anos, mas os números de 2024 estão longe do esperado. Até agora, apenas 5,8% do público-alvo foi imunizado — o que equivale a 614.787 doses aplicadas de um total de 10.524.882 crianças até cinco anos de idade.
O estado de São Paulo lidera a vacinação, com 136.484 doses aplicadas. Roraima, por sua vez, registra o menor número — apenas 514 aplicações. Esses números colocam em risco o controle da doença no país.
O Brasil vem apresentando índices decrescentes de vacinação. Em 2023, 84,63% do público-alvo foi imunizado contra a pólio, uma melhora em relação aos 77% alcançados em 2022. A tendência de queda na cobertura é atribuída principalmente à disseminação de mentiras e desinformações em grupos de mensagens, além de esforços de setores da extrema direita no Congresso para impedir a obrigatoriedade das vacinas.
De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em 2022, das 2.561.922 crianças nascidas vivas no Brasil, 243.008 não receberam a primeira dose contra a poliomielite. Em 2023, esse número caiu para 152.521 sem a dose inicial. O pediatra Henrique Gomes alerta que a desinformação disseminada pelos grupos antivax favorece o avanço da doença.
“A baixa da vacinação se deve a vários fatores. Com a pandemia de covid-19, espalhou-se o movimento antivacina e o movimento ficou mais forte. Como a doença já foi erradicada aqui no Brasil, muitos acreditam que não precisam se vacinar — e isso com muitas doenças do calendário vacinal. Essa nova geração nunca viveu a pólio, então fica difícil fazer com que os pais enxerguem a real necessidade da vacina. Precisamos trabalhar para que compreendam que a vacina é a única forma de prevenção contra a poliomielite”, exortou Gomes.
Desde 2016, a adesão à vacinação tem diminuído no país, o que levou a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) a incluir o Brasil na lista das nações em risco de reintrodução do vírus da poliomielite. O infectologista Hemerson Luz enfatiza a gravidade da doença.
“Ao acometer crianças não vacinadas, pode levá-las à morte ou deixá-las com sequelas irreversíveis. Em que pese existir uma influência dos movimentos antivacina, a perda da memória da população em relação aos casos graves tem impactado no cuidado de alguns pais e responsáveis em relação à poliomielite. É uma tendência mundial que deve ser enfrentada”, salientou Luz. (Colaborou Mayara Souto)
*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi
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