Fisco espera receber 46,2 milhões declarações, e muitas delas devem ser feitas por pessoas que estão estreando a operação. Especialistas dão dicas de como preencher corretamente e evitar a malha fina
Por Fernanda Strickland e Raphael Pati via CB
A temporada de entrega das declarações do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) 2025, ano-calendário 2024, está em pleno andamento, e milhares de brasileiros, especialmente jovens trabalhadores, estão vivendo uma estreia importante na prestação de contas ao Leão. E junto com a novidade, vêm as dúvidas, os medos e a responsabilidade de lidar com o Fisco.
A Receita Federal estima receber, neste ano, 46,2 milhões de declarações. Entre elas, um número expressivo de estreantes que, em muitos casos, estão apenas começando a trajetória profissional. “É um marco da vida adulta, mas também um momento que exige atenção e organização”, explica Fabiano Azevedo, empresário contábil e embaixador da Omie, plataforma de gestão na nuvem.
Azevedo destaca que o primeiro passo é reunir toda a documentação necessária. “Antes de iniciar a declaração, reúna comprovantes de rendimentos, informes bancários, recibos de despesas médicas, notas de educação, comprovantes de compra e venda de bens, entre outros. A falta de documentos é uma das principais causas de erros, atrasos e até mesmo da malha fina”, alerta.
Os contribuintes precisam ficar atentos ao período de entrega da declaração do IRPF e evitar deixar tudo para a última hora. O prazo para o envio sem multa termina dia 30 de maio.
Neste ano, deve declarar o IRPF quem recebeu rendimentos tributáveis acima de R$ 33.888 no exercício de 2024, o que representa cerca de R$ 2.824 por mês. Também está obrigado a prestar contas ao Fisco quem recebeu rendimentos isentos, não tributáveis ou tributados exclusivamente na fonte acima de R$ 200 mil no ano passado. Há ainda outras situações que exigem a declaração, como ter obtido ganho de capital na venda de bens ou realizar operações na bolsa de valores.
Outro ponto que costuma confundir quem está declarando pela primeira vez é a escolha entre o modelo simplificado e o completo. A declaração simplificada aplica um desconto padrão de 20% sobre os rendimentos, limitado a R$ 16.754,34 neste ano — mesmo valor previsto na o IRPF do ano passado. Já o modelo completo permite abater despesas com saúde, educação, pensão alimentícia e dependentes — e pode ser mais vantajosa para quem tem gastos elevados nessas áreas. Para saber qual é o modelo mais vantajoso, a dica de Fabiano Azevedo é clara: “Faça simulações antes de enviar”.
Para quem ainda não está familiarizado com o programa da declaração do IRPF, muitas vezes, a solução é buscar um contador. Segundo a perita contábil Sandra Batista, a decisão entre fazer a declaração por conta própria ou contratar um contador vai depender de dois fatores: o conhecimento e a afinidade com o tema. “Se a pessoa não conhece a legislação tributária e também não gosta do assunto, a melhor opção é contratar um profissional. Se só um dos dois for verdade, ainda assim vale contratar. Se ambos forem sim, aí entra o terceiro fator: quer realmente fazer?”, pondera.
E, para se preparar para preencher a declaração, o contribuinte deve ter em mãos documentos, como CPF, título de eleitor, comprovante de residência, dados bancários, nome e CPF de dependentes (se houver), além de todos os informes de rendimentos, desde o empregador até os das instituições financeiras onde tem conta aberta ou algum investimento. Especialistas recomendam guardar esses documentos por até cinco anos, prazo que a Receita pode solicitar comprovações.
Uma vantagem para quem já declara é o uso da Declaração Pré-Preenchida, agora com mais dados automáticos, mas é preciso ter uma conta Gov.br de nível prata ou ouro. “É uma excelente forma de reduzir erros”, pontua Azevedo.
Malha fina
Um dos maiores temores de qualquer contribuinte é cair na malha fina. Quando isso ocorre , normalmente, há alguma inconsistência nos dados e, por conta disso, a análise que a Receita faz é mais detalhada. Erros simples, como colocar CPF errado, repetir dependente em mais de uma declaração ou omitir rendimentos menores, podem ser o suficiente para cair nessa peneira do Fisco.
“Declare todas as fontes de renda, mesmo as pequenas”, recomenda Azevedo. O contador Adriano Marrocos, conselheiro do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), reforça: “Mantenha seus comprovantes organizados. E, se cair na malha fina, identifique a inconsistência, reúna os documentos e responda à notificação no prazo via E-cac. Em muitos casos, isso é suficiente para resolver a pendência.”
Declarar o IRPF pela primeira vez pode parecer assustador, mas com organização, atenção e, se necessário, ajuda profissional, é possível encarar o processo com tranquilidade. Errar é comum, mas muitos problemas podem ser evitados com informação e planejamento, como avalia o conselheiro do CFC.
As deduções com despesas médicas, dentista ou educação são alguns exemplos para que o contribuinte consiga aumentar o valor da restituição. André Cavalcanti, sócio da Valore Contabilidade, destaca algumas situações curiosas que podem entrar na conta desde que os serviços sejam prestados por profissionais devidamente habilitados e com emissão de recibo.
Entre os exemplos que o especialista enumera, estão psicólogos, procedimentos dentários, cirurgias bariátricas ou plásticas reparadoras com indicação médica, e até aulas de pilates.
Apesar disso, o contador ressalta que os procedimentos com finalidade puramente estética não podem ser deduzidos. No entanto, cirurgias com finalidade terapêutica ou reparadora, como no caso de correções pós-bariátrica ou de reconstrução facial, podem ser incluídas, desde que acompanhadas de laudo médico.
Uma estratégia interessante de ser adotada é ficar atento às deduções permitidas para pagar menos imposto e até mesmo aumentar a restituição. “Muita gente paga imposto a mais por desconhecer essas possibilidades. Um bom planejamento tributário começa com informação e organização ao longo do ano”, complementa Cavalcanti.
Conforme dados da Receita, até às 10h do último dia 15, foram 12,7 milhões de declarações. No ano passado, a meta do órgão ligado ao Ministério da Fazenda era receber 43 milhões de declarações e, no último dia do prazo, foram registrados 42,4 milhões de formulários.
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